segunda-feira, 23 de abril de 2012

CONTRASTE, Chapada Diamantina - BA


A única certeza é perceber o quão somos pequenos diante de algumas grandezas. Sejam estas da natureza, das energias ou das formações geológicas.

Grutas e cavernas banhadas por águas azuis que recebem a luz do sol por poucos minutos num dia, proporcionando cenas incomparáveis do espetáculo da natureza. Paraísos naturais com valor de entrada. Paraísos privados garantindo que a riqueza de tod@s, proporcione riquezas particulares.  Todas as paisagens maravilhosas contrastam com as realidades que às rodeiam.
Hora surpreso pelo fluxo de caminhões transportando sonhos e rebites, hora a 80km numa estrada de 100km por não conseguir desgrudar os olhos das incríveis imagens que se sucediam em nossa frente. Em Salvador já presenciamos uma realidade que se aproxima da capital paulista, se observa a diferença na cor da pele, nos sotaques e na arquitetura barroca portuguesa abundante nas casinhas e nas igrejas, que via de regra, cobertas de ouro, servem suas marquises para abrigar crianças e adult@s vitimados pelo mal do crack/Álcool e outras drogas.  No centro do Estado Bahiano, no coração da Chapada Diamantina encontra-se tanto descaso quanto em nossas periferias extremas.
Cidadezinhas históricas do século XIX, misticismo, crenças e contos. Do alto da Cachoeira da Fumaça, com trilha de início no Vale do Capão, município de Palmeiras, a sensação de paz e o frio na barriga pelos 340 metros de altura da queda, somado a visualização de um vale maravilhoso formado entre cãnios da chapada, te transporta a outro mundo, onde a visita e o gozar de vários patrimônios naturais daquela região, estivessem ao alcance de tod@s, inclusive dos povos que ali sofrem por falta de atenção.
Comidas típicas enchiam a boca d’água, de tão belas, temperadas e saborosas. Importante papel de salivar, uma vez que a Chapada Diamantina enfrenta a maior seca dos últimos 40 anos. Precisávamos desse artifício pra aguentar os, em média, 35 graus de sol escaldante. Dos sabores dos vários pratos, aos dessabores com as crianças que nos recebiam a cada entrada de vilarejo, a oferecer amendoim, doces, pequenos artesanatos, demonstrando a dificuldade daquela gente em manter suas vidas dignamente.

Na última refeição no interior da Chapada, encontramos uma menina, aparentava 6 anos de idade. Negra, linda e criança, sapeca e com dois luminosos e gritantes olhos azuis... Chamei por ela diversas vezes, já que nos rodeava querendo nos chamar a atenção. Mas ela não vinha, parecia não me entender, me indagava com um olhar questionador, mas incrivelmente expressiva. Tentei arrancar dela o nome e a idade, sem sucesso. Lugar de poucos frequentadores a refeição custou a sair, mas finalmente pronta, obtivemos as informações da menina com a atendente do restaurante. Aquela menina expressara perfeitamente em forma humana o que era aquele lugar. Linda, exuberante, sofrida e enigmática. O nosso deslumbre, não nos permitiu perceber que desde o nascimento ela não ouvira uma palavra sequer, e não falava por consequência. Libras? Não. Elas desenvolvem seus próprios sinais.

Vale do Capão, Palmeiras, Lençóis, Igatú, Chapada Diamantina: Paisagens lindas e inesquecíveis, vivencias sofridas que desejamos não rever. Deslumbrar-se com suas belezas é consequência, se indignar com seus contrastes é um despertar de compreensão. Visitem.